(Na onda da sátira "Funcionários" do livro "Quotidiano Delirante" do artista Miguelanxo Prado seguem mais umas estórias de pura ficção... estas minhas estórias são mesmo ficção, qualquer semelhança com a realidade serão pura coincidência).
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- Senhor engenheiro, tenho mais umas situações que gostaria de rever consigo a ver se podemos fazer algumas melhorias...
- Ai, mau, mas começa já assim a semana? Raio do rapaz sempre a moer-me a cabeça - disse o homem a entredentes.
- Na passada semana fui dar uma volta de bicicleta a Monsanto e sabendo que a minha namorada estava com a minha filha no parque da Serafina passei lá para lhes dar um beijo.
- Quem simpático da sua parte. Mas e então?
- E então quando uma pessoa vai dar uma volta de passeio de bicicleta é normal que não leve atrás toda uma tralha que pode levar quando usa a bicicleta como meio de transporte nomeadamente um cadeado, e quando cheguei à porta do parque não me deixaram entrar com a bicicleta.
- Ah pois é. Regras são regras. Só as crianças podem andar de bicicleta no parque da Serafina amigo -sentenciou o homem.
- Sim, sim, nada contra - retorquiu o rapaz - faz sentido, aquilo está cheio de gente, de famílias, de crianças e até bebés em carrinhos, é perfeitamente aceitável que não possam adolescentes ou adultos andar em cima das bicicleta a rolar.
- Lá está! - finaliza o homem já a agarrar o seu jornal para ver as gordas.
- Mas eu podia levar a bicicleta pela mão, mas não me deixaram e disseram que a podia deixar no parque.
- E então?
- E então que faz algum sentido não deixarem entrar com a bicicleta à mão, e terem um parque de bicicletas à entrada que ninguém usa? Não estaria melhor esta estrutura se estivesse lá dentro ao lado do café/restaurante?
- Ó rapaz, esse estacionamento está perfeito onde está, os carros também não entram dentro do parque não é assim?
- Está a comparar os carros às bicicletas? - irritou-se o rapaz.
- Eu? Eu não. Vocês os maluquinhos das bicicletas é que tem essa mania.
O rapaz furibundo resolveu parar a conversa não fosse exaltar-se. Respirou e contou até 100. Depois pausadamente voltou a tentar dialogar.
- Bom, sabendo-me desta limitação no dia 1 de Maio, Dia do Trabalhador, resolvi levar lá a minha filha mas fomos os dois de carro e levei a bicicleta dela na bagageira.
- Ah, e fez você muito bem, conseguiu estacionar o carro?
- Sim, sim, consegui. Aliás, até estranhei pois haviam poucos carros e estava um dia bastante agradável para se estar ao ar livre... mas ao chegar ao portão havia um aviso que dizia:
"A Câmara Municipal de Lisboa informa que os parques recreativos da Serafina e do Alvito, situados no Parque Florestal de Monsanto, vão estar encerrados ao público na próxima sexta-feira, dia 1 de Maio, feriado nacional, assinalando o Dia Mundial do Trabalhador."
- Ah pois é! - frisou o homem.
- Mas, mas acha bem?
- Claro! Os trabalhadores tem direito a celebrar o Dia do Trabalhador.
- Mas é um jardim municipal, dos melhores da capital, onde dezenas senão centenas de crianças podem divertir-se, correr, saltar, fazer-se piqueniques...
- Pois, temos pena, há sempre o resto do fim-de-semana - mofou o homem.
O rapaz já bufava!
- Bem, como o parque do Alvito também estava fechado acabei por ir até à Alameda Keil do Amaral, pelo menos essa estaria de certeza aberta.
- Fizeste bem rapaz - disse o homem já a perder interesse na conversa.
- Pois, mas enquanto passeava com a miúda que rolava de bicicleta reparei em mais um equipamento de parqueamento de bicicletas que não faz sentido - atirou o rapaz captando a atenção do homem.
- Mas como assim?
- Então, há lá um lava-bicicletas, conhece?
- Sim claro, fomos nós que tratamos disso.
- Mas ao lado há um parqueamento inútil. Que de nada serve.
- Preso por ter cão e preso por não ter. Está lá pois há muita gente a andar de bicicleta nessa zona, a fazerem btt e ciclismo, assim podem parquear as suas bicicletas.
- Senhor engenheiro, ninguém que vá fazer desporto de bicicleta em btt ou ciclismo leva cadeados e irá deixar a bicicleta no meio do nada para ir a algum lado.
- Podem ir ao WC, ora!
- Se andarem em grupo alguém fica de fora a guardar, e se andar sozinho faz no meio da natureza.
- Ah, e se for uma mulher?
- Tem visto muitas mulheres sozinhas a fazer btt em Monsanto?
- Não mas pode sempre haver uma.
- Não lhe parece Senhor Engenheiro, que este equipamento na Avenida Keil do Amaral e o do parque da Serafina seriam mais úteis a quem realmente precisa de ter um local onde prender a sua bicicleta quando vai trabalhar ou estudar? Em frente a um Hospital? Ou a uma Escola? Ou a um Museu? Locais onde possa realmente ser usado por quem precisa?
O homem fez-lhe um sorriso amarelo:
- Está feito, está feito. Fica anotado o comentário. Agora deixa-me lá trabalhar - rematou enquanto abria o jornal.
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Agora sem ser ficcionado, isto existe e deve servir para muito pouco... digo eu!
Dia do trabalhador e mais uma estória dos Funcionários #6
Friday, May 1, 2015
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onde é mesmo esse lava-bikes?
ReplyDeleteNa Av. Keil do Amaral. Mas penso que há mais desses equipamentos em Monsanto, é pesquisar na net.
DeleteOk Obrigado
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