(Na onda da sátira "Funcionários" do livro "Quotidiano Delirante" do artista Miguelanxo Prado seguem mais umas estórias de pura ficção... estas minhas estórias são mesmo ficção, qualquer semelhança com a realidade serão pura coincidência).
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- Bom-dia! - diz o engenheiro de forma efusiva!
- Ora bons-dias - replicam os restantes lá no escritório do município.
- Olha rapaz - diz virando-se para o seu aprendiz - tenho a dizer-te que fizémos mais uma obra de valor! Anda aí um maluquinho a pedir para se fazerem troços de ciclovia, passeios e passadeiras ali na Estrada da Circunvalação, tás a ver onde é?
O rapaz conhecia o dossier e acenou que sim.
- Pois, passei lá há uns tempos, e aquilo realmente é uma vergonha... é um perigo para todos, principalmente para as pessoas que usam a estrada como alternativa para se dirigirem de carro para o trabalho.
O rapaz franziu o sobrolho.
- Então não é que quando lá passei de manhã no meu carro, até ia devagar, não ia a mais de 70kms/h...
- Mas ali não é uma zona de 50 kms/h senhor engenheiro?
- Tu por acaso andas de carro? É impossível cumprir esses limites ridículos... a estrada está boa para os carros, e aquilo é sempre a abrir! Bom... ia eu e não é que se me atravessam uns peões, assim no meio do nada... na estrada?
- Do nada?
- Sim, sim. Ali mais para o lado do Parque de Campismo de Lisboa, a uns sei lá, uns 500mts existem umas paragens de autocarro, no nada, é que é mesmo no meio do nada... e os turistas e empregados do hotel atravessam a estrada para irem para a paragem...
- Ah, já sei... é um local onde os peões tem de andar mais um bocado para irem à passadeira e depois voltar para trás... sim essa parte está muito mal feita. E então, mandou meter um passadeira mais perto para os peões atravessarem em segurança?
- Hã? Não! Nada disso! A passadeira estar longe é bom, assim os turistas andam mais um bocadinho, só lhes faz bem andar. Hehe. Além de que se já andam 500mts para irem apanhar o autocarro o que é mais uns 100mts? Se não quisessem andar alugassem um carro!
- Então mas qual foi a obra?
- Como os sacanas dos estrangeiros turistas e até a malta que trabalha por ali se mandava para a estrada para atravessar lembrei-me de que podíamos era forçar os peões a ficar onde devem...
- Fazendo bons passeios?
- Mau, tu não aprendes rapaz? Chiça... não, metendo uma cerca para não os deixar passar para a estrada! Pumba! Assim como se faz ao gado! Heheheh! E nem metemos pavimento no passeio, é mesmo em terra batida!
O rapaz nem estava a acreditar...
- Senhor engenheiro, meter uma cerca? Eu acho que meter pilaretes pode fazer sentido para que os veículos motorizados não estacionem nos passeios, mas essa de meter uma cerca para os peões não sairem do passeio nunca tinha ouvido...
- Sempre a inovar! Tás a ver? Quem disse que os mais velhos não tem ideias disruptivas? Bem pensado não é?
- Eu acho que não!
- Olha que sim... e agora que falas nisso, acho que há ali uma zona onde algum nosso colaborador iluminado mandou meter uma cerca para os carros não terem onde estacionar que isso sim é parvo. Deviamos começar a tirar essa cerca que isso sim é uma vergonha. Com tanto e bom passeio para estacionar carros e está ali um espaço que quase nem tem uso...
- Está a gozar? - pergunta o rapaz incrêdulo.
- Não, claro que não... e sabes outra que fizémos... ali no Bairro da Boavista? Além de criarmos mais espaço para estacionamento automóvel ainda arranjamos umas coberturas para proteger os carros do sol! Dinheiro bem investido! Aprende rapaz!
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As cercas são novas e existem mesmo, devem ser para orientar os peões e os obrigar a irem a uma passadeira que em vez de estar entre as paragens está lá loooonge ao fundo...
As outras cercas que existem para proteger o passeio de abusos de estacionamento estão lentamente a desaparecer... alguém anda a levar a madeira e a arrancar os suportes na Avenida General Correia Barreto.
Não há dinheiro para se fazerem pequenos troços de ciclovia, ou colocar sinalização, pintar passadeiras, colocar postes de iluminação, mas depois há verbas para coberturas de estacionamento automóvel no Bairro da Boavista:
Mas será que é assim tão difícil tomar boas decisões?
Será que as pessoas que decidem estas coisas tem dois dedos de testa?
Em vez de investirem em ciclovias, ou melhorias em vias cicláveis, em fazer passeios e melhorar as condições paupérimas de quem quer dispensar o carro e optar por transportes públicos parece que fazem tudo para dificultar! F0SG@-SE!
Outras estórias de ficção aqui:
http://asminhasbicicletas.blogspot.pt/2014/12/funcionarios-ou-como-gastar-dinheiro.html
http://asminhasbicicletas.blogspot.pt/2014/12/funcionarios-2-e-3.html
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Funcionários - ou como tomar decisões estranhas #3
Thursday, April 2, 2015
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"Ai... o menino não tem gaita?"
Thursday, January 15, 2015
Há uns tempos levei um "raspanete" online de uma pessoa (a qual não conheço pessoalmente) que tem mais anos de experiência que eu nisto de circular de bicicleta em meios urbanos por eu ter mostrado em video e depois escrito que costumo apitar/buzinar/"campainhar" a alguns peões.
O facto é que já é o terceiro equipamento sonoro que tenho na minha bina Felicidade, a campaínha de origem não se ouvia. Comprei uma segunda que já tinha um bom timbre mas mesmo assim era demasiado soft.
E mais tarde comprei a buzina maravilha que é bastante audível... apesar da minha mais que tudo dizer "Pareces um palhaço!".
É tão fixe que ofereci uma igual ao meu vizinho e amigo commuter e ele tb já não vive sem ela :)
Mas ultimamente, pricipalmente à noite quando levo as luzes ligadas, às vezes em vez de buzinar (e eu faço-o a grande distância para não sobressaltar ninguém) tenho abrandado e faço-me sentir mais pelo rolar da bicicleta ou simplesmente digo "Com licença, obrigado!" ou "Se faz favor, posso passar? Obrigado" - que foi um bocado a orientação que a tal pessoa me fez passar num raspanete online em frente a demais comparsas da "bicicleta".
Sabem o que tem acontecido?
Dizem assim os peões:
"Ai... mas isso não tem gaita?"
"E a campaínha? Não toca?"
"Compra uma campaínha!"
"Toca a buzina!"
Basicamente sentem-se ofendidos por ser demasiado silencioso na aproximação, principalmente quando estão na ciclovia e abrando ao nível deles.
Já por mais que uma vez que apanho um bando de runners, já com alguma idade, que correm a ocupar toda a largura da ciclovia na Radial de Benfica, à noite. Por mais que uma vez que me aproximo, abrando, e como o foco de luz aponta para o chão e aquela zona é escura eles percebem a minha presença e desviam-se. Mas mandam sempre a boca: "Não tem campaínha?"
Desta última vez, assim que o foco de luz lhes atinge os pés em passada de corrida, buzinei...
"Andávamos a dizer mal do homem e afinal tem uma corneta! Assim sim!"
Preso por ter cão e preso por não ter. Vou continuar a fazer o que o meu bom-senso ditar.
Adenda:
Nem de propósito, no dia seguinte a escrever este post, à noite dei de caras com uns peões na ciclovia mas como só me apercebi tarde de mais não buzinei e rolei devagar até chegar perto.
Um deles sobressaltou-se e disse-me: "O amigo tem de comprar um apito!"
O facto é que já é o terceiro equipamento sonoro que tenho na minha bina Felicidade, a campaínha de origem não se ouvia. Comprei uma segunda que já tinha um bom timbre mas mesmo assim era demasiado soft.
E mais tarde comprei a buzina maravilha que é bastante audível... apesar da minha mais que tudo dizer "Pareces um palhaço!".
É tão fixe que ofereci uma igual ao meu vizinho e amigo commuter e ele tb já não vive sem ela :)
Mas ultimamente, pricipalmente à noite quando levo as luzes ligadas, às vezes em vez de buzinar (e eu faço-o a grande distância para não sobressaltar ninguém) tenho abrandado e faço-me sentir mais pelo rolar da bicicleta ou simplesmente digo "Com licença, obrigado!" ou "Se faz favor, posso passar? Obrigado" - que foi um bocado a orientação que a tal pessoa me fez passar num raspanete online em frente a demais comparsas da "bicicleta".
Sabem o que tem acontecido?
Dizem assim os peões:
"Ai... mas isso não tem gaita?"
"E a campaínha? Não toca?"
"Compra uma campaínha!"
"Toca a buzina!"
Basicamente sentem-se ofendidos por ser demasiado silencioso na aproximação, principalmente quando estão na ciclovia e abrando ao nível deles.
Já por mais que uma vez que apanho um bando de runners, já com alguma idade, que correm a ocupar toda a largura da ciclovia na Radial de Benfica, à noite. Por mais que uma vez que me aproximo, abrando, e como o foco de luz aponta para o chão e aquela zona é escura eles percebem a minha presença e desviam-se. Mas mandam sempre a boca: "Não tem campaínha?"
Desta última vez, assim que o foco de luz lhes atinge os pés em passada de corrida, buzinei...
"Andávamos a dizer mal do homem e afinal tem uma corneta! Assim sim!"
Preso por ter cão e preso por não ter. Vou continuar a fazer o que o meu bom-senso ditar.
Adenda:
Nem de propósito, no dia seguinte a escrever este post, à noite dei de caras com uns peões na ciclovia mas como só me apercebi tarde de mais não buzinei e rolei devagar até chegar perto.
Um deles sobressaltou-se e disse-me: "O amigo tem de comprar um apito!"
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