Cidades humanas...

Sunday, January 1, 2017

Em Lisboa a, tímida mas corajosa, abordagem de obras à mobilidade em modos ativos estão quase a acabar e em breve poderemos ver os frutos desse investimento nas pessoas e na cidade.

(imagem da página do facebook Gobierno de Buenos Aires)

Hoje dia 1 de janeiro de 2017 fui com a família, de carro é certo, almoçar perto da Praça do Saldanha em Lisboa, e quase que parecia um domingo qualquer numa aldeola no meio do nosso Portugal profundo, tal era a diferença para a azáfama dos dias correntes deste eixo central.

Ainda assim deu para ver em 10 minutos os tais 5 ciclistas que o PSD Lisboa afirma serem os únicos utilizadores das dezenas de quilómetros de ciclovias que a CML esbanjou do erário público.


(oh o quinto ciclista lá ao fundo...)

Gosto da maneira como enquadraram a calçada artística com este material de cimento branco mais usável para peões, carrinhos de bebé, cadeiras de rodas, e pessoas com trolleys. E não foi preciso alcatroar com aquele alcatrão escuro que se vê em Paris ou Londres, continua com a luminosidade branca que caracteriza os passeios do centro e sul do país.

Como em todos os projetos há sempre pormenores menos bem conseguidos, pena é que os técnicos da CML não peçam a opinião e apoio das associações e dos utilizadores de bicicleta mais experientes, ou até de gabinetes especializados em Portugal e no estrangeiro, a fim de não cometerem erros de desenho que depois na obra exponenciam perigos desnecessários se a infraestrutura fosse bem feita.

Exemplo é esta ciclovia que circunda a praça do Saldanha, assim como aliás a que existe na Praça do Marquês de Pombal na outra ponta da mesma Avenida Fontes Pereira de Melo em Lisboa.

Porque raio se desenhou a ciclovia no meio da praça ao nível do passeio, mesmo que segregado? Os peões vão continuar a invadir esta via pois não há cultura ainda para perceber que ali não devem andar. Só com um número elevado de bicicletas a rolar, que eu sinceramente desejo e acho que irá acontecer, mas vai sempre haver uma ovelha tresmalhada a furar as regras de conduta.

Não era melhor ter feito no lugar onde aqueles carros estão estacionados (ver primeira foto de cima) o prolongamento da ciclovia? Não era melhor até para os cruzamentos, mantendo a ciclovia com prioridade, fazendo-a elevada em relação à cota da estrada para abrandar o trânsito motorizado no atravessamento?


Mas se há coisas menos bem conseguidas, há que dar o mérito quando merecido, e a praça está mais ampla, mais humana, mais usável. Com muitos bancos de jardins, dos bons, em madeira.

E para quem conhece a zona e a sua vivência o que dizer de finalmente a passagem de peões que era um pesadelo para atravessar uma dúzia de metros onde antes se tinham de fazer 3 passadeiras distintas e atravessar 4 faixas de rodagem agora está uma larga e funcional passadeira que une as duas laterais da avenida sendo possível fazer a travessia de um só fólego.

Onde antes os peões se "atiravam para a estrada para alcançar a outra margem" agora está uma passadeira para as pessoas, todas as pessoas, pois a CML tem investido muito nas infraestruturas de inclusão daqueles que tem mobilidade reduzida.
Espetacular!!! Muito bom trabalho!



Ainda assim, na minha opinião, a Avenida está com um perfil de autoestrada, com muitas vias e pouco espaço pedonal e cheia de obstáculos.



É capaz de ser útil este tema do placard com os lugares de estacionamento disponíveis, mas o lettering dos nomes dos parques parece pequeno, e quiça devesse estar antes no semáforo vermelho para se ler enquanto estivessem parados, pois no momento de aceleração duvido que se consiga ler.


Estes bancos são um pormenor interessante, quiça para fazer a segregação entre peões e a ciclovia, vamos ver com o tempo se resulta... mas quando os vi admito que só me fez lembrar este excerto da letra da música dos Azeitonas - "Anda comigo ver os aviões" e imaginar um par de namorados ali sentados a inalar o CO2 dos escapes.
«...
Anda comigo ver os automóveis à avenida
A rasgar nas curvas
A queimar pneus
...»
Eu sei que é parvo, mas foi o que pensei... não mando no meu cérebro.

Fiz este pequeno video, desta vez dentro do carro, no lugar do pendura, antes de pintarem a via reservada de BUS no sentido descendente da Praça do Saldanha para a Praça do Marquês.
Hoje havia pouca gente a circular, quer a pé quer de bicicleta.



Já tinha antes feito outro do lado oposto, no sentido ascende, onde num sábado lá passei na minha bicicleta elétrica.


"Ah e tal é uma vergonha, querem fazer os Lisboetas andarem todos a pé e de biciclete! E os carros por onde passam? Estas modernices lá do norte da Europa não servem para a nossa cidade..."

Então mas parece que funciona bem em Santiago do Chile, no Chile.



E também em Buenos Aires, Argentina.


Vejam mesmo estes links, vale a pena!

E qual é assim a grande diferença que salta à vista nestes dois vídeos de cidades latinas na América do Sul? Qual é? Para além de terem passeios largos, faixas de rodagens mais estreitas para redução de velocidade, e de delimitação entre o trânsito e os peões? Qual é?

É que quase não há estacionamento para automóveis na rua...! O horror! O drama!

Quantas ruas conhecem com trânsito automóvel que não permitam de todo estacionamento automóvel? Sem ser a Rua da Prata e a Rua do Ouro não estou a ver muitas mais.
(Eu não conheço Lisboa inteira, mas duvido que hajam muitas dessas ruas... but you get the point, right?)

Uma cidade mais humana tem de ser mais equilibrada. Eu não condeno o uso do carro como meio de transporte, eu tenho um carro, e uso bastante, só não abuso do mesmo. O que não consigo aceitar são as políticas que não dão liberdade de escolha a todos, e previligiam uns em detrimentos dos restantes.
E os enormes custos que daí advêm, para todos!!

1 comment

  1. bom artigo, acredito que daqui a uns 20 anos já vamos estar bem melhores do que essas cidades estão hoje ^^

    ReplyDelete

 

BiciCultura

Visite o Planeta BiciCultura

Visitas

Pesquisa

mais lidas

Tags